quinta-feira, 29 de novembro de 2007

FORMANDO LEITORES...

O avanço reflexivo da sociedade e a tomada de uma postura crítica diante dos fatos fazem com que a literatura infantil seja um dos meios que as crianças necessitam para tornar-se “bons leitores.”
Atualmente, a literatura infantil está sendo contada e trabalhada na maioria das Instituições Escolares, visando explorar seu “Cunho Formativo”, ou seja, possibilitando a fruição dos indivíduos, considerando os fatores psíquico e emotivos como imprescindíveis para o desenvolvimento e a transcedência cognitiva dos seres. Desta forma, sua cognição torna-se cada vez mais apurada e seletiva, exigindo cada vez mais, melhores livros.
Em geral, a literatura aborda a realidade social, exibindo em seus valiosos escritos, os anseios e os desejos momentâneos, variando de contexto para contexto. Esse novo ideal literário possibilita um alargamento de horizontes, já que oportuniza aos indivíduos uma posição crítica perante os problemas por eles percebidos, pois “Ler é atribuir diretamente um sentido a algo escrito, [...] é questionar algo escrito como tal a partir de uma expectativa real; [...] é ler escritos reais, que vão desde um nome de uma placa até um livro, passando por um cartaz, uma embalagem, um jornal, um panfleto, [...] é lendo de verdade, desde o início, que alguém se torna leitor e não aprendendo primeiro a ler.”
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Contudo, essa abertura e alargamento de horizontes varia de acordo com a sensibilidade que cada indivíduo possui frente à literatura, seja ela baseada na ficção ou na realidade. Dependendo da sensibilidade que as crianças possuem diante da literatura infantil, certamente abrem-se inúmeras virtualidades cognitivas do texto, pois como seres singulares, temos reais condições de estarmos interpretando de maneiras diversas os textos literários que nos são apresentados. Essa postura é riquíssima para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, para que elas possam constituir-se cada vez mais como seres humanos reflexivos e críticos.
Diante dos fatos mencionados, evidencia-se claramente que os leitores necessitam estar mantendo um intercâmbio constante entre o texto e o mundo, pois os textos não possuem somente uma resposta, uma única visão. Esta visão única pode ser percebida mais claramente nas fábulas e, portanto, a postura crítico-reflexiva do leitor torna-se imprescindível. Geralmente elas são contadas com o intuito moralizante, pois “... uma fábula parece ser [...] uma narrativa na qual seres irracionais, e algumas vezes inanimados, com a finalidade de dar instrução moral, simulam agir e falar com interesses e paixões humanas.”
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Assim sendo, é interessante lermos fábulas às crianças para que elas possam estar discernindo a índole dos mais diversos personagens que nelas se encontram, já que as fábulas não permitem variações interpretativas. A fábula “A cigarra e a Formiga”, coloca a Cigarra como um personagem que queria se aproveitar do empenho e da preocupação que a formiga tinha para com o seu futuro. Assim, ela cantou durante todo o verão, enquanto a formiga trabalhava. No inverno, voltou-se para a formiga pedindo os alimentos que a mesma reservara para passar os temidos meses de inverno.
Atentando nossos olhares para esse enredo, que busca enfatizar a necessidade de se pensar no futuro, questiono se estes personagens são realmente malévolos? Eles não estariam apenas respeitando a lei da natureza para que pudessem continuar sobrevivendo? Não é justo que cacem? Que tentem se alimentar? É... somente contar a fábula às crianças e mostrar uma só verdade faz com que elas aceitem tudo. Não precisam estar pensando em novas possibilidades, pois já lhes foi apresentada a “verdade” pelo professor. Por isso, ressalvo novamente que a postura crítico-reflexiva é extremamente relevante na formação cognitiva das crianças, e esta deve partir primeiramente do professor, para em seguida, despertar as potencialidades reflexivas dos seus alunos. Assim, a criticidade estará presente nas aulas de literatura, sem que se perca o encanto e o brilho dos contos de fadas e das fábulas..
III - A SALA DE AULA E O LIVRO
É comum encontrarmos nas bibliotecas escolares coleções diversas sobre literatura infantil à disposição das crianças. Entretanto, será que elas, por livre e espontânea vontade vão até a biblioteca ler esses livros sem que sejam estimuladas a fazer tal tarefa? Será que nós, enquanto classe docente estamos oportunizando a fruição e o prazer pelo gosto da leitura? Ou, estamos aniquilando cada vez mais o potencial de leitores das nossas crianças? Certamente estes não são os únicos questionamentos feitos por docentes das séries iniciais do Ensino Fundamental em relação à literatura infantil.
Podemos perceber que os educadores já estão direcionando diferentes olhares para os textos literários. Não estão mais assumindo a forma de “detentores do saber”, mas estão possibilitando e instigando os alunos a detonarem múltiplas visões perante as leituras, pois “...o professor precisa estar ‘sintonizado’ com as transformações do momento e reorganizar seu próprio conhecimento ou consciência do mundo...”
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Uma dessas mudanças de posição é a leitura “hermenêutica”[8], que possibilita um maior alargamento do texto e segundo ZILBERMAN, “... é a partir daí que se pode falar de leitor crítico.”[9] A posição tomada pelo educador perante a leitura de seus educandos também é imprescindível, já que é ele quem fará o papel mediador e oferecerá os estímulos necessários para estabelecer relações reflexivas dos alunos com o texto apresentado.
Quando o professor possibilita a fruição dos seus alunos, ele está dando reais condições para que estas crianças possam se desenvolver, baseados na liberdade de expressão, independentemente do livro que lhes foi apresentado, pois:

A justificativa que legitima o uso do livro na escola nasce, de um lado, da relação que estabelece com seu leitor, convertendo-o num ser crítico perante sua circunstância; e, de outro, do papel transformador que pode exercer dentro do ensino, trazendo-o para a realidade do estudante e não submetendo este último a um ambiente rarefeito do qual foi suprida toda a referência concreta.
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Confirma-se assim, a contribuição da literatura infantil como agente formador dos seres, tornando-a indispensável em nossas salas de aula.

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