domingo, 2 de dezembro de 2007

Desmistificando alguns mitos

Desmistificando alguns mitos.

O primeiro mito a ser desmistificado é o de que no passado a escola pública era ótima e hoje...

A antiga escola pública era seletiva e elitista. A ela não tinha acesso atotalidade da clientela em idade escolar. O número de analfabetos adultosremanescentes dessa escola pública ótima é um exemplo. Os avós degrande parte de nossos alunos e parte enorme de seus pais nãofreqüentaram a escola porque a democratização do ensino público é recente.Para se ter uma idéia, só na década de 90 é que o Brasil conseguiumatricular cerca de 97% dos alunos de 7 a 14 anos na escola. A escola pública ótima era freqüentada pela parcela da classe média (em seusdiferentes estratos), que tinha acesso à função social da escrita e provinhade famílias escolarizadas.

O segundo mito é o de que a escola particular é melhor do que a escolapública. Esquecem-se os adeptos desta tese que o nível de escolaridade dospais e a condição sócio-econômica dos alunos faz diferença. Todas as pesquisasnacionais e internacionais sobre avaliação do desempenho dos alunos mostramque esses são fatores que aproximam os alunos que os possuem daquilo quea escola tem como objetivo: a transmissão de conhecimentos relevantes paraa vida e para a sociedade. No entanto, não se pode aceitar esse fato como umdeterminismo imobilizador, já que outras tantas pesquisas também apontampara a existência de escolas eficazes, que conseguem ensinar a todos,independentemente de sua origem social e cultural.

A escola eficaz, dentre outras ações, durante o processo de ensinoe aprendizagem aproxima o mundo escolar do mundo dos alunossem desqualificar a história de vida e a cultura deles, sem querer compensar deficiências, mas atenta para os diferentes conhecimentosque cada aluno traz para a sala de aula, explorando o que sabemfazer, para que ultrapassem o patamar em que estão e ascendam aoutros patamares.

Há mitos metodológicos, também. Defensores dos métodos analíticosnão concebem que os alunos lidem com a fonetização. Já, para os defensoresdos métodos sintéticos, primeiro os sons, depois as sílabas, depois as palavrase por fim o texto. Alfabetização não é uma questão de método. O aprendera ler e a escrever é um processo levado a efeito pelo aprendiz, com a mediaçãodo professor que saberá dosar, em situações de classe, as estratégiasnecessárias para que seus alunos produzam e leiam textos e descubram asrelações entre os fonemas e grafemas que constituem as palavras.

Tantos mitos se criaram em sala de aula... Copiar é proibido. Como seescrever algo de interesse para a criança, ainda que sob a forma de umpequeno texto para ilustrar algo, fosse prejudicial. Não se trata de copiarlistas de palavras sem sentido, mas da cópia com significado. Copiar otexto que se produziu, assinalar palavras, procurar palavras que tenhamsemelhanças, diferenças, enfim, há momentos para a produção livre e hámomentos em que um pequeno trecho copiado tem seu valor.

Ler em voz alta não é o desejável. O importante é a leitura silenciosa. Ecomo saberemos como esta leitura ocorre se não a ouvirmos, se não houvertrocas entre os alunos? Como ler bem, com a entonação correta, a pontuaçãodevida, se não lermos para sermos ouvidos? Aqui não se trata de leiturapunitiva (o célebre “continue de onde seu colega parou”), mas da leituraprazerosa. Esta é a leitura que os atores fazem, quando lêem textos teatrais.Eles lêem procurando a melhor forma de pronunciar as palavras e de lhesdar a entonação dramática ou cômica que o texto exige. Na realidade ostextos estão à espera de um leitor que lhes dê vida e que abra inúmeraspossibilidades de leitura. Em suma, a leitura silenciosa tem seu espaço, masnão deve ocupar todos os espaços, especialmente no início da alfabetização.

Há muitos outros mitos. Cada professor, durante sua formação préviaou sua formação em serviço já ouviu que não se deve fazer muitas?20coisas, que isto ou aquilo impedem a construção de conhecimentospelos alunos. Muitos escutam, mas não ouvem, e, baseados em seubom senso e em sua história profissional, usam estratégias diversas(proibidas ou não) e realizam um bom trabalho. Outros, por insegurança,aferram-se a um só modelo em geral, o das cartilhas. Muitos outrosquerem ser construtivistas e seguir o “método de Emilia Ferreiro”, masa autora não criou nenhum método. Como pesquisadora deu importantesinformações para aqueles que queiram levar seus alunos com sucessoao mundo da leitura e escrita, deixando o caminho aberto para que ospedagogos, a partir das reflexões feitas, criassem os seus próprioscaminhos, que são muitos e diversos como muitos e diversos são osalunos em cada sala de aula.

Conhecer o trabalho dos autores construtivistas e dos que defendem ateoria histórico-cultural, como Vygotsky, e conhecer, também, teorias dalingüística, da sócio-lingüística e da psico-línguística é de grande valia,mas conhecer aspectos teóricos apenas não é o bastante. É precisotransformar a teoria em prática pedagógica e isto é feito dentro das salasde aula por professores e alunos. Além disto é preciso conhecer os alunose o contexto em que se situa a escola, considerando-se que no processo deaprendizagem não estão envolvidos apenas aspectos cognitivos, sociais eculturais, mas que cada aluno é um sujeito no mundo, com sua história devida que se cruza e se afasta da dos demais.

Para vencer os mitos, portanto, cada professor deve se confrontar comeles, desmistificando-os, o que será mais fácil, à medida que o professor construir competências no campo da alfabetização.

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