segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Derivação imprópria ("comício monstro")

Derivação imprópria "comício monstro"
É comum ouvirmos expressões como "manifestação monstro", "concerto monstro" ou "comício monstro". Se olharmos no dicionário, vamos conferir que "monstro" é, primeiramente, um ser assustador, pavoroso. Trata-se em primeiro lugar de um nome, um substantivo. Mas veremos também que "monstro" é adjetivo, com a acepção de "muito grande", "fora do comum".


Quando dizemos "espetáculo monstro", por exemplo, usamos a palavra "monstro" como adjetivo, para qualificar. Passa a significar "grande", "muito grande", "excessivamente grande". O emprego de uma palavra fora de sua classe gramatical usual tem um nome: derivação imprópria.


Imprópria por quê? Porque essa derivação foge ao padrão da língua, isto é, determinada palavra está sendo utilizada fora do padrão habitual no qual ela é empregada. Além disso, a derivação ocorre em um processo diferente do usual.
Normalmente, quando queremos fazer uma palavra derivar de outra, acrescentamos prefixos ou sufixos, como podemos observar nos exemplos abaixo:
honesto - desonesto honesto - honestidadefeliz - infelizf eliz - felicidade
A derivação imprópria supõe um processo diferente, bastante enriquecedor. Vejamos a seguir trechos de duas canções em que aparecem exemplos de derivação.
A primeira é "Pobre paulista", gravada pelo Ira!:


Todos os não se agitam

toda adolescência acata

e a minha mente gira

e toda ilusão se acaba...


A outra canção é "Vou tirar você do dicionário", gravada por Zélia Duncan:


Eu vou tirar você de mim assim que descobrir

com quantos nãos se faz um sim

eu vou tirar o sentimento do meu pensamento

sua imagem e semelhança vou parar o movimento

a qualquer momento procurar outra lembrança.


Nas duas letras, a palavra "não" é utilizada como substantivo. "Não" normalmente é um advérbio e modifica verbos: "não vou", "não faço", "não digo". Nas letras que vimos, a palavra aparece como substantivo e tem de ser tratada como tal. Por isso deve fazer a flexão no plural:
"todos os nãos se agitam" "com quantos nãos se faz um sim"
Não escreva, portanto, "os não", mas sempre "os nãos".

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