quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Recall

De tempos em tempos a palavra recall,de origem inglesa, que pode ser traduzida como "chamar de volta" ocupa páginas de jornais, anúncios de TV e espaços nos noticiários, colocando grandes empresas na indesejável evidência de vir a público chamar seus clientes para trocar produtos defeituosos, freqüentemente destacando riscos de segurança envolvidos.

A prática do recall é facilmente associada à indústria automobilística, desde seu início nos anos 1960, quando o advogado americano Ralph Nader, descobriu e denunciou defeitos em um modelo de automóvel. A partir daí, praticamente todas as montadoras tiveram que passar pela desagradável, mas instrutiva experiência de corrigir seus erros.

Empresa nenhuma deseja vivenciar o pesadelo de vir a público admitir erros graves, gastar milhões em publicidade em um evento negativo para sua imagem, entulhar seus depósitos com produtos defeituosos, substituí-los gratuitamente e ainda arcar com todos os custos envolvidos na operacionalização da coisa toda.

Mesmo assim, um recall não é o fim do mundo. Algumas empresas, com habilidade e marketing, conseguem tirar alguma vantagem do desastre, reconhecendo a falha antes que ela se torne pública e tomando medidas preventivas que lhe reforçam a imagem de companhia séria, preocupada com a segurança.

Punições

O recall espalhou-se para além do setor automotivo, forçando indústrias como as de eletrônicos, eletrodomésticos e de brinquedos a lançarem mão dessa prática.

Para fabricantes, ser publicamente acusado por acidentes causados por freios defeituosos ou por peças pequenas de brinquedos soltas passíveis de serem engolidas pode implicar em pagamento de indenizações milionárias e, o que é pior, a perda de credibilidade de sua marca.

Depois de Ralph Nader, os EUA e outros países se tornaram mais exigentes com suas leis de proteção ao consumidor, explicitando as obrigações e responsabilidades do fabricante pela qualidade dos produtos, particularmente quando a segurança do usuário era um item a ser considerado.

Além disto, algumas históricas decisões dos tribunais americanos penalizaram com indenizações multimilionárias empresas que mesmo sabendo da existência de defeitos em seus produtos optaram por vendê-los, tendo sido os juizes extremamente severos nos casos de acidentes com vítimas.

No Brasil, o primeiro recall foi feito em 1988 por uma montadora de automóveis. O Código de Defesa do Consumidor veio pouco depois, dando a entender que nos alinhávamos no patamar do mundo industrializado na questão desses direitos, que apontava para tempos pautados pelo respeito aos consumidores.

Globalização

Em 2007, um grande fabricante de brinquedos esteve em evidência por convocar um recall mundial para trocar produtos que continham alto teor de chumbo em sua composição, o que colocava em risco a saúde de milhões de crianças.

O recall se refere a brinquedos feitos na China, hoje disparada a maior fonte destes produtos no mundo, dada sua capacidade de escala e incentivos diversos que oferecerem custos de produção mais baixos que qualquer outro lugar do mundo.

Com a globalização, a China gostou muito da idéia de ser o lugar economicamente mais viável para se fabricar qualquer coisa. Hoje, é difícil encontrar um brinquedo vendido no Brasil cujo made in não remeta ao antigo Império do Centro. Problema é quando esta redução de custos coloca em risco a vida de pessoas inocentes.

Nenhum comentário: